“Os demônios” | Fiódor Dostoiévski

Curso de introdução à obra de Dostoiévski: análise do romance Os demônios
Originalmente ministrado pelo Zoom, em fevereiro de 2021.
4 aulas; cada uma com, no mínimo, 2 horas.
O romance Os demônios (1871-72) é uma obra fundamental em meio à trajetória do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), uma vez que traz à tona uma polêmica ideológica radical entre Dostoiévski e os membros da intelligentsia russa de esquerda, da qual o próprio escritor já fizera parte quando integrou, em fins da década de 1840, o círculo revolucionário de Pietrachévski, razão pela qual foi condenado a longos anos de trabalhos forçados na Sibéria.
Em diálogo com as trajetórias das personagens Stiepan Trofímovitch, Piotr Vierkhoviénski, Chátov, Kiríllov e Nikolai Stavróguin, analisaremos como Dostoiévski projeta o futuro das ideias e práticas revolucionárias em relação aos seguintes pontos:
(i) a ruptura da intelligentsia de esquerda da década de 1860 com o idealismo filosófico, o socialismo utópico e a contemplação estética que haviam influenciado a geração de intelectuais russos da década de 1840, em meio à qual o próprio Dostoiévski se formara;
(ii) a dimensão de que a violência revolucionária, não embasada em quaisquer parâmetros transcendentais (“Se Deus não existe, tudo é permitido”), passaria a alimentar-se de si mesma, de modo a ceifar opositores, correligionários e as próprias bases da sociedade (supostamente) emancipada, o que levaria a uma radical reversão da utopia em distopia (Dostoiévski pôde antever o horror stalinista?);
(iii) o niilismo revolucionário de Nikolai Stavróguin, protótipo do super-homem nietzscheano [“é preciso fazer tabula rasa da história e da tradição, como queriam os revolucionários franceses” (precursores do Terror e da guilhotina)] e sua reversão em niilismo existencial com o suicídio de Kiríllov, quiçá a personagem mais radicalmente trágica e pessimista da obra de Dostoiévski;
(iv) os crimes em que se envolvem as células revolucionárias contra o regime tsarista e as nuances contraditórias (a bem dizer, paradoxais) da confissão horrivelmente pedófila de Nikolai Stavróguin, o arquétipo do (suposto) novo homem revolucionário ao clérigo Tíkhon, capítulo originalmente censurado quando da publicação de Os demônios.
Aula 1: Contextualização histórico-filosófica das polêmicas que gestaram o romance Os demônios e análise da primeira parte da obra. Quais as diferenças filosóficas, políticas e sociais entre a geração de intelectuais da década de 1840, em meio à qual Dostoiévski se formou, e a então nova geração revolucionária da década de 1860, cujo niilismo ideológico e cujas práticas radicalizadas contra o regime tsarista fizeram o escritor russo entrever tendências autoritárias e regressivas no seio mesmo dos movimentos dos quais deveria surgir a emancipação?
Aula 2: Análise da segunda parte do romance. Chátov e a polêmica sobre a liberdade política: não haveria, de fato, maior angústia para os homens e mulheres – isto é, para as massas – do que encontrar alguém (um líder, um demagogo, um pai) diante de quem fosse possível se ajoelhar? A arte deve erigir o belo e sublime e para esses ideais se voltar? Ou, então, a arte deveria se voltar para o que é útil? Chátov novamente e a polêmica sobre se um par de sapatos é mais valoroso do que um afresco do renascentista italiano Rafael Sanzio.
Aula 3: Análise da terceira parte do romance. O niilista Kiríllov, centro nevrálgico do mais trágico e rematado pessimismo em Dostoiévski, e sua teoria (e prática) sobre a fundação da seita nihil a partir do próprio suicídio: “Se Deus existe, a vontade é Dele, e eu nada posso. Se Deus não existe, a vontade é minha, e eu devo me tornar Deus”. Como poderíamos discernir Kiríllov, com o suicídio, e Stavróguin, com os horrores do homicídio e da pedofilia, como duas faces da mesma moeda niilista?
Aula 4: Análise do epílogo do romance e discussão sobre o caráter premonitório de Os demônios em relação ao Estado policial stalinista. Contextualização da censura que sofreu o capítulo que envolve a odiosa confissão pedófila de Nikolai Stavróguin ao clérigo Tíkhon, o qual, com a rematada ambiguidade psicológica dostoievskiana, recomenda ao jovem revolucionário, que se regozija em relembrar seus crimes, a estada no monastério. A lucidez da análise de Dostoiévski a respeito das tendências autoritárias e regressivas dos movimentos revolucionários, de modo a projetar que ditaduras policiais viessem a despontar quando eles tomassem o poder do Estado e tivessem que lidar com o homem e a mulher de carne osso, com suas tendências progressistas, mas também conservadoras. Teria Dostoiévski projetado o stalinismo 50 anos antes das barbaridades estatais cometidas a partir da década de 1930?
Flávio Ricardo Vassoler, escritor, professor, psicanalista em formação e youtuber, é doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University, que fica em Evanston, nos Estados Unidos.
Durante o mestrado, realizou um curso de língua russa e pesquisas bibliográficas junto à Universidade Russa da Amizade dos Povos, que fica em Moscou, na Rússia.
É autor do romance O evangelho segundo talião (nVersos, 2013); do livro de ensaios e aforismos sobre cinema, literatura e teoria social Tiro de misericórdia (nVersos, 2014); do livro-tese Dostoiévski e a dialética: fetichismo da forma, utopia como conteúdo (Hedra, 2018); do livro de crônicas, ficções e ensaios Diário de um escritor na Rússia (Hedra, 2019); e do romance de formação em diálogos Metamorfoses, os anos de aprendizagem de Ricardo V. e seu pai (Nômade, fiel como os pássaros migratórios, 2021).
É colunista do site Brasil 247, para o qual escreve ficções sobre sua experiência nômade no continente europeu. Colabora, periodicamente, para o caderno literário “Aliás”, do jornal O Estado de S. Paulo; para o caderno “Ilustríssima”, do jornal Folha de S.Paulo; e para as revistas Carta Capital, Veja e Piauí.
Apresenta aos sábados, na TV 247, o programa Filosofia do Cotidiano, ao longo do qual analisa fatos e processos da contemporaneidade por prismas histórico-filosóficos.
Valor do curso: R$ 400,00
Formas de pagamento:
1. PIX – Chave do PIX: nomade.editora@gmail.com
Para ter acesso às aulas, envie o comprovante do PIX, por favor, para um dos seguintes e-mails:
within_emdevir@yahoo.com.br
nomade.editora@gmail.com
socrático.vassoler@gmail.com
2. Para solicitar outras formas de pagamento, envie uma mensagem, por favor, para um dos seguintes e-mails:
within_emdevir@yahoo.com.br
nomade.editora@gmail.com
socrático.vassoler@gmail.com
3. Entre em contato pelo WhatsApp: +55 11 95559-4912
Observações:
O curso não pressupõe conhecimento prévio da obra de Dostoiévski.
Recomenda-se a edição de Os demônios traduzida por Paulo Bezerra e publicada pela Editora 34.
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Escritor, professor, youtuber, fundador da Universidade Virtual do Vassoler e apresentador do programa Filosofia do cotidiano (TV 247), é doutor em Letras pela USP, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (EUA).
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