Memórias do subsolo | Fiódor Dostoiévski

Curso sobre a novela Memórias do subsolo (1864), de Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
Originalmente ministrado, pelo Zoom, em outubro/novembro de 2020.
4 (quatro) aulas, cada uma com, no mínimo, 2 (duas) horas .
A novela Memórias do subsolo (1864) é uma obra paradigmática em meio à trajetória do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), uma vez que o homem do subsolo, (anti-)herói da estória, congrega uma série de características de personagens dostoievskianas de romances posteriores, tais como Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1880). Da inteligência e da ironia afiadas como um punhal às explosões tão indômitas quanto repentinas de fúria; da autoestima narcísica ao extremo à comiseração por si mesmo que não perde oportunidade de se aviltar perante os demais; da solidão misantrópica à vontade de se irmanar com as outras pessoas, o (anti-)herói em questão faz jus a seu apelido autoproclamado de paradoxalista do subsolo e nos proporciona amplo material, em termos arquetípicos, para entendermos a dinâmica psíquico-existencial das personagens de Dostoiévski.
Memórias do subsolo, ademais, traz à tona uma polêmica ideológica radical entre Dostoiévski e os membros da intelligentsia russa de esquerda, da qual o próprio escritor já fizera parte quando integrara o círculo revolucionário de Pietrachévski, razão pela qual fora condenado a longos anos de trabalhos forçados na Sibéria. Contra a dimensão utilitária e racional de que o ser humano sempre age coerentemente em busca da maximização de suas satisfações pessoais, o homem do subsolo defenderá, em suas ideias e ações, a dimensão de que a posse da própria personalidade, ainda que implique o elogio do próprio naufrágio, é quintessencial a ponto de fazer ruir quaisquer sistemas e planejamentos sociais harmônicos que pretendam modelar o homem e a mulher contra suas características mais contraditoriamente humanas ao longo da história.
Analisaremos a novela Memórias do subsolo, nesse sentido, tanto como uma polêmica dostoievskiana com os pares revolucionários de sua época quanto como uma síntese literária e psíquico-existencial das tensões que se irradiariam pela obra vindoura do autor.
Aula 1: Contextualização histórico-filosófica da novela Memórias do subsolo, de modo a mapearmos quais são os autores e obras, dentro e fora da Rússia, que contribuíram para forjar as teses e antíteses com e contra as quais o homem do subsolo dialoga/polemiza na primeira parte da obra, O subsolo.
Aula 2: Análise da primeira parte da obra, O subsolo: a forma radicalmente irônica e a dinâmica pulsional contraditória e autofágica – o duelo entre Eros e Tânatos, pulsão de vida e pulsão de morte – como bases estéticas e existenciais da teoria e da prática do homem do subsolo em sua polêmica com os revolucionários russos de meados do século XIX.
Aula 3: Primeira parte da análise de A propósito da neve molhada, a segunda e última parte da novela: a princípio misantropo, veremos como o homem do subsolo se propõe a confraternizar com seus muy amigos da época de escola – a confraternização como rematadas quedas de braço -, de modo ora a sobrepujá-los, ora a ser por eles humilhado, com o que o próprio homem do subsolo não deixa de contribuir com requintes sadomasoquistas sumamente dostoievskianos.
Aula 4: Segunda parte da análise de A propósito da neve molhada: a princípio solidário e compassivo com Lisavieta, a jovem letã que se prostituía, o homem do subsolo realiza uma das viradas mais ambíguas e tensas da obra de Dostoiévski: querendo se irmanar à moça que assistira ao sofrimento de nosso (anti-)herói, ele acaba por afugentá-la com uma ação sumamente vil, a ponto de o ressentido homem do subsolo mostrar completa predileção pelas grades de sua solitária misantrópica, como um apologista rematado do discurso da servidão voluntária.
Flávio Ricardo Vassoler, escritor, professor, psicanalista em formação e youtuber, é doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University, que fica em Evanston, nos Estados Unidos.
Durante o mestrado, realizou um curso de língua russa e pesquisas bibliográficas junto à Universidade Russa da Amizade dos Povos, que fica em Moscou, na Rússia.
É autor do romance O evangelho segundo talião (nVersos, 2013); do livro de ensaios e aforismos sobre cinema, literatura e teoria social Tiro de misericórdia (nVersos, 2014); do livro-tese Dostoiévski e a dialética: fetichismo da forma, utopia como conteúdo (Hedra, 2018); do livro de crônicas, ficções e ensaios Diário de um escritor na Rússia (Hedra, 2019); e do romance de formação em diálogos Metamorfoses, os anos de aprendizagem de Ricardo V. e seu pai (Nômade, fiel como os pássaros migratórios, 2021).
É colunista do site Brasil 247, para o qual escreve ficções sobre sua experiência nômade no continente europeu. Colabora, periodicamente, para o caderno literário “Aliás”, do jornal O Estado de S. Paulo; para o caderno “Ilustríssima”, do jornal Folha de S.Paulo; e para as revistas Carta Capital, Veja e Piauí.
Apresenta aos sábados, na TV 247, o programa Filosofia do Cotidiano, ao longo do qual analisa fatos e processos da contemporaneidade por prismas histórico-filosóficos.
Valor do curso: R$ 400,00
Formas de pagamento:
- PIX Chave do PIX: nomade.editora@gmail.com
Para ter acesso às aulas, envie o comprovante do PIX, por favor, para um dos seguintes e-mails:
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nomade.editora@gmail.com
socrático.vassoler@gmail.com - Pela plataforma Eventbrite (à vista, por cartão de débito ou crédito, ou de forma parcelada, em até 12 vezes, pelo cartão de crédito);
Para solicitar tal forma de pagamento, envie uma mensagem, por favor, para um dos seguintes e-mails:
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nomade.editora@gmail.com
socrático.vassoler@gmail.com
Observações:
O curso não pressupõe conhecimento prévio da obra de Dostoiévski.
Recomenda-se a edição de Memórias do Subsolo traduzida por Paulo Bezerra e publicada pela Editora 34.
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Escritor, professor, youtuber, fundador da Universidade Virtual do Vassoler e apresentador do programa Filosofia do cotidiano (TV 247), é doutor em Letras pela USP, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (EUA).
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