“A dócil” e “O sonho de um homem ridículo” | Fiódor Dostoiévski

Curso sobre os dois maiores contos de Dostoiévski: A dócil e O sonho de um homem ridículo
Originalmente ministrado pelo Zoom, em abril e maio de 2021.
4 aulas; cada uma com, no mínimo, 2 horas.
A dócil (1876) e O sonho de um homem ridículo (1877) representam o ápice da realização do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881) como contista. Não à toa, o filósofo da linguagem e crítico literário russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), autor de Problemas da poética de Dostoiévski (1929), entreviu tais contos como uma suma das grandes questões que atormentaram (e redimiram) o escritor ao longo de sua vida.
Em A dócil, o marido-narrador nos conta – isto é, ele tenta nos contar – o que se passou diante do caixão de sua esposa, cujo suicídio em muito se liga às agruras a que o narrador, ora tomado pela culpa, a submetia. Com uma linguagem alquebrada pelo remorso daquele que tenta compilar os estilhaços de sua cumplicidade em face do martírio da esposa, A dócil é a expressão mais infernal da crise niilista em Dostoiévski, crise que se expressa do conteúdo suicida à impossibilidade formal de uma narrativa escorreita e bem concatenada diante do amor que se mescla ao remorso e do crime que se confunde com o próprio castigo.
Os tormentos lancinantes de A dócil como que desembocam em O sonho de um homem ridículo, cujo narrador-personagem, um niilista desprovido de quaisquer vinculações existenciais com a vida (“Tudo me é indiferente”), pretende se matar. Não fosse a dor moral que lhe foi provocada por uma pobre criança pedindo ajuda em uma gélida noite invernal de São Petersburgo, o homem ridículo de fato teria enfiado uma bala na própria cabeça. Ocorre que, a partir da percepção de que a dor pelo outro (o pathos conjunto, a compaixão) ainda lhe fornecia uma ligação com a vida, nosso (anti-)herói tem um sonho transcendental e redentor, ao longo do qual acaba descobrindo, por meio da mais profunda revelação espiritual da obra de Dostoiévski, as razões pelas quais os seres humanos se apartaram e se alienaram uns dos outros.
Da dor infernal de A dócil à redescoberta redentora em O sonho de um homem ridículo, analisaremos como Dostoiévski constrói uma trajetória que vai dos círculos dantescos mais infernais à ressignificação transcendental da vida que denega cabalmente o niilismo e o suicídio.
Aula 1: Análise de alguns dos principais momentos niilistas em meio à obra de Dostoiévski como base para a compreensão do psiquismo paradoxal do narrador de A dócil, que mescla amor e sadismo, culpa e solidariedade, crime e castigo.
Aula 2: Discussão sobre como a dor e a culpa (in)verossímeis do narrador de A dócil, radicalmente entrelaçadas ao trágico suicídio de sua esposa, lançam as bases para a percepção de Dostoiévski sobre a essência da realidade estar ligada não ao transcurso paulatino do cotidiano, mas aos momentos de crises e profundas ressignificações, dimensões que poderíamos chamar de “realismo escatológico”.
Aula 3: Primeira parte da análise de O sonho de um homem ridículo: da profunda indiferença niilista por tudo e por todos (o prenúncio do suicídio) ao encontro salvífico do homem ridículo com uma pobre criança, que, ao lhe pedir socorro em uma gélida noite de inverno, acaba ajudando nosso (anti-)herói a se religar à vida.
Aula 4: Segunda parte da análise de O sonho de um homem ridículo: o sonho salvífico e transcendental da personagem como a realização de uma possível filosofia da história em Dostoiévski, ao longo da qual se vislumbram tanto os motivos do egoísmo, da maldade e da desrazão humanas (o inferno) quanto as (im)possibilidades e o ímpeto para que os homens e mulheres possam se reconciliar em existência harmônica e fraterna (eis a imagem mais redentora em meio à obra dostoievskiana).
Flávio Ricardo Vassoler, escritor, professor, psicanalista em formação e youtuber, é doutor em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University, que fica em Evanston, nos Estados Unidos.
Durante o mestrado, realizou um curso de língua russa e pesquisas bibliográficas junto à Universidade Russa da Amizade dos Povos, que fica em Moscou, na Rússia.
É autor do romance O evangelho segundo talião (nVersos, 2013); do livro de ensaios e aforismos sobre cinema, literatura e teoria social Tiro de misericórdia (nVersos, 2014); do livro-tese Dostoiévski e a dialética: fetichismo da forma, utopia como conteúdo (Hedra, 2018); do livro de crônicas, ficções e ensaios Diário de um escritor na Rússia (Hedra, 2019); e do romance de formação em diálogos Metamorfoses, os anos de aprendizagem de Ricardo V. e seu pai (Nômade, fiel como os pássaros migratórios, 2021).
É colunista do site Brasil 247, para o qual escreve ficções sobre sua experiência nômade no continente europeu. Colabora, periodicamente, para o caderno literário “Aliás”, do jornal O Estado de S. Paulo; para o caderno “Ilustríssima”, do jornal Folha de S.Paulo; e para as revistas Carta Capital, Veja e Piauí.
Apresenta aos sábados, na TV 247, o programa Filosofia do Cotidiano, ao longo do qual analisa fatos e processos da contemporaneidade por prismas histórico-filosóficos.
Valor do curso: R$ 400,00
Formas de pagamento:
1. PIX – Chave do PIX: nomade.editora@gmail.com
Para ter acesso às aulas, envie o comprovante do PIX, por favor, para um dos seguintes e-mails:
within_emdevir@yahoo.com.br
nomade.editora@gmail.com
socrático.vassoler@gmail.com
2. Para solicitar outras formas de pagamento, envie uma mensagem, por favor, para um dos seguintes e-mails:
within_emdevir@yahoo.com.br
nomade.editora@gmail.com
socrático.vassoler@gmail.com
3. Entre em contato pelo WhatsApp: +55 11 95559-4912
Observações:
O curso não pressupõe conhecimento prévio da obra de Dostoiévski.
Recomenda-se a leitura de A dócil (tradução de Maria de Fátima Bianchi) e O sonho de um homem ridículo (tradução de Vadim Nikitin) a partir das edições Duas narrativas fantásticas e Contos reunidos, ambas publicadas pela Editora 34.
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Escritor, professor, youtuber, fundador da Universidade Virtual do Vassoler e apresentador do programa Filosofia do cotidiano (TV 247), é doutor em Letras pela USP, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (EUA).
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